domingo, 19 de maio de 2013

SAIU NO JORNAL O POVO: Sem produção, família em Ibaretama se diz incapaz de pagar dívida


BARETAMA 19/05/2013

Sem produção, família em Ibaretama se diz incapaz de pagar dívida

Sucessivos períodos de seca diminuíram em 90% a capacidade produtora da fazenda de Antônio Miguel Fernandes, 74. Ele teme perder a propriedade

SARA MAIA
Carlos Gadelha lamenta morte das cabeças de gado, vítimas da seca

O leitor da cidade grande certamente não vê nada extraordinário em comprar feijão no mercantil. Contudo, para o senhor Antônio Miguel Fernandes, 74 anos, isso será algo inédito. E ele lamenta a novidade. O pouco feijão que ainda nasce na fazenda dele, no município de Ibaretama, a 134 km de Fortaleza, já não é suficiente para a família. Pela primeira vez em mais de 65 anos, Antônio vai precisar comprar feijão fora.

É o resultado de mais de três anos de seca, que vai matando no berço o feijão, o milho e o caju, que antigamente nasciam em abundância na fazenda de 159 hectares, hoje repleta de plantas e árvores esturricadas pelo sol e ossos de bicho espalhados no meio do mato. Mas isso não é tudo: a família deve quase R$ 290 mil ao Banco do Nordeste (BNB) e afirma que não tem como pagar do jeito que o banco está cobrando. A fazenda, hipotecada, pode ir a leilão. Nela vivem o casal Antônio e Francineide e os filhos Fábio José e Carlos Gadelha.
 
Plantação que não vinga

“A fazenda não produz nada atualmente. O feijão a gente planta e não nasce. Nem milho. Do gado, só do ano passado para cá, morreram 20 animais. A safra de caju caiu 90% nos últimos dois anos. Estamos praticamente deixando de comer para poder alimentar o gado”, diz Carlos Gadelha.

A estiagem arrasou mais do que o solo. Em 2009, seu Antônio sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que os filhos atribuem à preocupação com o acúmulo de dívidas com o BNB e com o definhamento da produção da fazenda. Além de parcelas de financiamentos e taxas bancárias e judiciais, a família teve que desembolsar ao mesmo tempo o tratamento médico de patriarca, que durou dois anos e incluiu diversas viagens para consultas e exames em hospitais de Fortaleza.

Seu Antônio também sofre períodos de depressão e se diz desesperado ante a possibilidade de perder a fazenda, que é a um tempo morada e sustento da família. Com os olhos marejados, ele pediu à reportagem que intercedesse junto à presidente Dilma Rousseff para que ela o ajude a pagar a dívida crescente. “Até hoje é a única dívida que tenho na vida. Eu quero pagar, mas de um jeito que eu consiga ficar livre”. Depois do AVC, ele não pôde mais fazer trabalho braçal na fazenda. Ao fazer o resumo de sua rotina desde então, o velho agricultor tem um semblante triste. “Hoje eu só faço comer, dormir e ficar ‘bêbo’ aqui”, disse Antônio, estirado na rede, olhando a paisagem como quem olha uma criança desnutrida.(Bruno Pontes - brunopontes@opovo.com.br)

ENTENDA A NOTÍCIA

Estima-se que de 50 a 60 mil produtores do Estado estão tendo dívidas executadas. No caso de Antônio Miguel Fernandes, a dívida é de quase R$ 290 mil. Ele pode perder a fazenda na qual vive desde 1945.

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